O que eu precisava

Quando uma criança sofre Bullying algumas coisas ficam bloqueadas para si, ainda mais quando essas crianças são sensíveis. Dois dos principais bloqueios já foram tratados aqui, o de associabilidade e o do se abrir para o amor. Hoje vou falar da entrega para a vida.
Após passar por descriminação e estar com sua cabeça confusa, as vítimas do Bullying tendem a não se entregar pra vida como as demais pessoas. O medo as domina e é nisso que elas podem perder bons momentos de sua construção estrutural.

Lembro-me muito bem de que durante o colegial eu sempre fazia a mesma coisa durante as tardes após as aulas: ficar trancado em minha casa sozinho, assistindo, comendo ou dormindo. Eu estava fazendo um mal tremendo a mim mesmo. Isolando-me do mundo, das oportunidades, das pessoas. Não queria me entregar, ignorei o mundo como se ele todo também tivesse me ignorado. Confesso que durante o tempo que estava trancado dentro de casa aprendi algumas lições de vida essenciais para minha vida, mas não me entreguei a minha adolescência.


O se entregar que eu falo é o mesmo que se permitir, se jogar, fazer acontecer. Eu nunca marquei encontros, disso não me arrependo porque não era o que eu queria. Arrependo-me de não ter aberto o portão e ir à casa de algum amigo – só fiz isso nos dois últimos anos de colégio – me arrependo de não ter me envolvido mais com as pessoas, de não ter saído, não abrir minha mente e não dado espaço para todos. Mas no fundo sei que a culpa não foi só minha, eu estava acuado, com medo.  Eu só não queria ser julgado, só não queria ser condenado por algo que não era minha culpa, queria ser aceito porque ainda tinha um coração, queria ter amigos porque meu caráter valia muito mais do que qualquer aparência. Eu desejava mostrar meus valores, mas faltava coragem. Jogaram uma corda em meus pés, eu simplesmente as amarrei e fiquei com elas por um bom tempo. Sentia-me tão odiado pelos outros, e aí a arrogância como defesa: “Já que alguns me odeiam, vou fazer por onde. Agora vão me odiar com motivo”. Eu “sacaneei” comigo porque estava preso na minha ignorância. Talvez o que eu precisava era só um pouco de amor, de atenção, ser lembrado, abraçado e amparado. Não queria ter chorado tantas vezes sozinho. Eu precisava sentir que alguém me amava alguém além da minha família, necessitava me sentir amado.


É bem claro que perdi algumas chances de conhecer pessoas, de viver uma fase de extrema importância. Eu não me permitia não me entregava e não me jogava, e só Deus sabe o quanto admiro pessoas que fazem isso. Parece pouco, mas não é. Hoje o que busco fazer é isso, se envolver com a vida, se permitir, ser quem eu sou sem medo. O receio não pode me dominar. O que eu quero deixar claro aqui é que me tornei alguém emotivo sim, ainda mais quando recebo elogios, quando alguém diz que gosta e torce por mim. É bom ouvir ou ler isso. É como sentir esperança que seu barco não vai afundar e que você conquistou o carinho de alguém. Isso faz você perceber o quanto errou lá atrás, que na verdade não precisava se esconder de ninguém, nem recuar, mas sim ter vivido aquilo da sua forma. E sabe por quê? Porque você ainda irá descobrir que algumas pessoas vão gostar de você e outras não, isso é normal. Terá mais pessoas para criticar do que elogiar, alguém ainda irá ferir seu coração, você terá um ex-amigo, assim como uma ex-namorada ou namorado e que as coisas mais belas estão no mais simples. Hoje em dia não me sinto mais tão sozinho, me permito, acredito consigo conquistar pessoas, fazer amigos, sendo eu, sendo de verdade.


Você não precisar estar enquadrado a nada, basta ter caráter e valores. Você precisa de amor, precisa vivenciá-lo e espalhá-lo. Precisa sair do quarto escuro, abrir o portão e ir viver, fazer amigos e estar de bem com a vida. O mundo não vira as costas pra vocês, apenas coloca algumas pedras que serviram como obstáculos para seu amadurecimento. Não deixe o medo vencer, não se bloqueie. A vida é uma pista de dança, mas cada indivíduo tem sua música. Viva, viva com amor.


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