Parte 1 - O Início
Sou o filho mais novo entre três irmãos. Minha irmã é 12 anos mais velha, e meu irmão 11 anos, ou seja, era o xodó da família. Meu pai trabalhava o dia todo e minha mãe cuidava da casa. Diferente de muitas crianças eu não frequentei a creche e o pré-escolar. Com 7 anos de idade fui direto para a primeira sala. Eu logo tive a característica de ser acima do peso, era um gordinho de cabelo tijelinha (o cabelo era elogiado) e tinha o nome de João. Logo os colegas de classe tinham que fazer alguma piadinha, por mais inocente que fosse atingia na minha mente. Quando não era "João e o Pé de Feijão", era "Gordo, baleia, saco de areia". Hoje em dia esses apelidos não me abalam, pois não é pesado perante outros insultos, é simples.
Eu era realmente um garoto sensível e tímido, mas me transformaram. Era amoroso e me compadecia com as pessoas de rua, com os animais abandonados e com a história realista e triste dos outros, me deixaram um pouco frio.
Reprovei de ano na segunda série, só eu e mais um menino. Eu tinha dificuldade pra ler. O que me levou a reprovar foi a falta de atenção. Me senti frustrado em ver todos meus colegas prosseguindo e eu ficando para trás. Não queria reprovar. Os dois primeiros anos da escola não foram os piores, mas já começaram as brincadeirinhas que me colocavam para baixo. Cheguei chorando em casa por ter reprovado, mas minha mãe ficou tranquila, ela achava que eu deveria reforçar o aprendizado um pouco mais.
Meu pai e eu só tínhamos um contato maior nos domingos de manhã, quando ele estava de folga. O resto da semana eu passava com minha mãe, sempre fui colado a ela. Já na minha segunda vez na segunda série conheci novas pessoas, novos colegas de sala e foi uma das épocas mais sossegadas e tranquila, até porque tínhamos uma professora ponta firme e uma única aluna que todos tiravam sarro e apelidavam. Realmente pegavam no pé dela. Ela era magrinha, moreninha, do cabelo enrolado. Lembro que ninguém queria ficar perto dela, até porque ela era briguenta. Ela foi muito rejeitada e motivo de sarro, sendo assim, logo os outros tiveram suas fragilidades esquecidas durante aquele ano, pois claro, tinham alguém para caçoar.
Mais um ano se passou e com o aumento do meu peso, meu apelido de "Gordo, baleia, saco de areia" passou ser mais usado. Como eu me sentia gordo e diferente dos demais meninos, não gostava de jogar bola ou praticar qualquer esporte. Na verdade eu era um gordinho sedentário mesmo e gostava de estar junto de minha mãe e de uma prima 7 anos mais velha. Em casa eram os melhores momentos do dia, mas no colégio não. Como vivi mais com a presença feminina, meus trejeitos não foram diferentes. Sendo assim, tinha um "jeitinho" que os outros meninos não tinha, ou seja, era afeminado. Com tudo isso, os "Gordo, baleia, saco de areia" se tornou inofensivo, se comparado com o "gay", "frutinha", "bambi", "baitola", entre outros. Mas eu nunca falei nada à minha família, não queria deixa-los triste, ou tinha medo da reação deles.
Em algumas vezes fui ameaçado por um menino. Me lembro dele até hoje. Ele era mais alto que eu, branco, sardento, metido a machão. Ele era primo da menina que eu era apaixonado. Enquanto no colégio eu era ameaçado e xingado, em casa tinha o carinho da minha família, mas internamente estava me apodrecendo. Na época passava uma novela teen que era sobre adolescentes revolucionários e que se colocavam contra as injustiças ocorridas. Logo, eu peguei aquilo como exemplo e quis agir de tal forma rebelde. Ninguém poderia falar nada de mim ou olhar torto que eu já queria brigar, partir pro braço. Me tornei alguém agressivo, o que chegou aos ouvidos de minha mãe. Ela me corrigiu com sábias palavras, mas no fundo não adiantaram muito, eu continuei. Eu brigava por tudo com aqueles que eram do meu tamanho, mas para os maiores eu "baixava a bola".
Lembro-me que tínhamos uma professora excelente, ela era amigona mesmo. Professora Flor. Ela apaziguava os momentos mais tensos em sala e fazia o respeito acontecer. Além disso, a mãe de um aluno também estava presente toda semana, uma vez que o filho dela tinha alguns problemas com a síndrome do pânico e necessitava dela. A mãe deste aluno também ajudava o pessoal. Mesmo com uma professora e uma mãe nota dez em sala, eu não deixei de ser explosivo.
A quarta série começou e junto com ele eu sabia que viriam as mesmas coisas e os mesmos xingamentos. Mas talvez o que eu não esperava era uma das piores coisas da minha vida, a perca da minha mãe...
A queda
O ano era 2007. Meu aniversário é no dia 15 de março, mas aquele ano minha mãe preparou minha primeira festa surpresa para um domingo de tarde. No dia 18 de março. Minha mãe acabou pegando uma forte gripe, enquanto preparava meu aniversário. Estar em contato com o calor da fritura de salgados e sobremesas geladas foi elemento fatal a ela. Após uma semana a minha festa surpresa, minha mãe venho a falecer. A gripe foi componente forte para sua partida, além de outros problemas de saúde que se agravaram.
Para mim foi um baque tremendo. Agora eu me sentia sozinho no mundo e exposto para qualquer um, já que era minha mãe minha heroína defensora. Tudo estava prestes a piorar.
Eu era uma das poucas crianças sem mãe, na minha sala. O dia das mães foi terrível. O bullying continuou e eu já não era mais agressivo, deixava os outros xingar e pronto. Tinha medo da defesa. Minha preocupação agora era com meu pai. Era eu por ele, e ele por mim. Minha irmã morava em outra cidade e não pode ficar com a gente e meu irmão trabalhava direto.
Após toda essa parte final um pouco mais dramática, a vida no colégio tendeu a piorar. Eu já estava indo para a quinta série, passando de escola para o colégio. Novas pessoas, pré-adolescentes, adolescentes, o que resultava em algumas pessoas mais cruéis...
*
Quando somos crianças não temos noção do quanto brincadeiras bobas podem fazer mal a mente de alguém. Não temos a noção do quão ridícula podemos a fazer se sentir e o que isso pode causar de ruim a ela, ou o quanto podemos a fazer chorar. Mas o mais ridículo é quem causa isso, o causador sempre será aquele que futuramente terá chances de sofrer mais. Compreender e aceitar o outro é a melhor forma de lidar com os sentimentos do próximo.
Galera, espero que vocês tenham gostado. No próximo post eu começo a relatar como e quando passei a lidar com o bullying de uma maneira mais pesada.
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