Parte 3 - A arrogância e a perca de peso


Nos últimos meses de 2010, quando eu estava na sétima série, decidi emagrecer para ver se a sorte brilhava pra mim, a sorte, mas se me encaixava. Magro, teria eu mais chances de ter alguma menina olhando com outros olhos pra mim? Não naquele colégio. Além disso, outro fato importante foi quando aconteceu uma pesagem de todos os alunos da sala. Resultado: Eu estava pesando 72 kg, tendo 1,69 de altura, algumas espinhas na cara e um cabelo de índio. Os xingamentos e os cochichos continuavam, e mais alguém se encasquetou comigo, ele me lembrava o menino da sexta série (que parou de estudar), era o mandão da turma. Enfim, eu precisava emagrecer e ser "alguém melhor".

Então passei a correr, literalmente, feito um louco. Fiz regime alimentar, já não comia mais arroz fritava com gordura ou óleo, tinha que ser tudo limitado, cortei o sal, comia de 3 em 3 horas, as vezes ia dormir com a barriga doendo de fome. Mas fiz tudo sem antes passar por uma nutricionista. Eu perdia peso com rapidez, mas queria estar cada vez mais magro. Para acelerar, algumas vezes coloquei o dedo na garganta, mas nunca consegui vomitar. O meu pai percebeu meu emagrecimento rápido, logo ele ficou preocupado e perguntava se eu estava doente. Ele me aconselhava a se alimentar bem e dizia que eu estava ficando muito abaixo do peso, parecendo doente. Eu não queria saber, queria perder peso. Outras pessoas diziam que com o tempo eu iria emagrecer e que eu não precisava daquilo, que futuramente eu seria bonito. Não me importava, queria ser bonito naquela época. Cheguei na oitava série com 56 kg e 1,69 de altura. Eu estava um pouco abaixo do peso. Tinha conseguido perder 16 kg em 3 meses e aquilo pra mim era uma vitória. Com todos os regimes e limitações que eu fiz, fiquei um bom tempo sem poder sentir o olfato das coisas e algumas vezes meu estomago sentia o efeito ruim ao comer carne, tive que me adaptar novamente.

Eu tinha um grupo de amigos, éramos em cinco: A menina briguenta, o galã mentirosa, a escandalosa, a nerd e eu, o revoltado. Além de ter amigos, agora eu estava magro e minha personalidade estava ficando mais forte, mas rebelde. O que não falei nas outras postagens é que durante a época do colegial, quando sofria bullying, procurei ajuda na internet, em textos de autoajuda, assistia a entrevista de famosos que sofreram com bullying, e gostava de analisar o comportamento das pessoas em realitys shows. Sim, eu consegui tirar bons proveitos até daquilo que maioria diz ser fútil. Pronto. Agora eu não precisava mais de ninguém no colégio. Já estava bem crescido, magro e minha mente estava mais afrente do que a dos outros alunos. Aliás, eu já tinha passado pela perca da minha mãe, os filmes de terror e os realitys me mostravam que pessoas de mal comportamento se davam mal. Eu buscava a justiça e decidi que o que aquelas pessoas fossem dizer de mim já não me atingiria. Mas no fundo, me atingia. Minha armadura? A arrogância.

Eu tinha meu grupo e me bastava. Agora eu apresentava os seminários da melhor forma possível, sempre nota máxima. Eu parecia gostar de mostrar minha superioridade perante a sala. A maioria dos que tiravam sarro de mim eram ruim em apresentações. Eu ria internamente e os olhava com superioridade, mas no fundo sabia que eles eram mais bem aceitos. Ainda na oitava série briguei várias vezes. Exatamente eu que não brigava no colégio, só em casa. Estava decidido que não aceitaria mais injustiça e que eu não abaixaria a cabeça pra ninguém. Mas eu só brigava com o povo do meu tamanho, é claro. Era cedo para me arriscar de levar na cara sem acertar um.

Agora o que eu queria era incomodar os que me incomodavam. Eu irritava. No primeiro ano do ensino médio a sala lotou. Eram cerca de 40 alunos e eu estava na mesma sala que alguns amigos do passado, um deles era o menino que tinha medo de se expressar. Eu já não estava afim de brigar, mas se fosse provocado, eu provocava. Queria alguém me agredindo, para mostrar a punição que essa pessoa teria, no máximo um processo, mas pra mim já estava bom. Admito que estava sem controle e meu equilíbrio emocional um pouco balançado. Eu queria justiça de todas as formas. Mas ainda chorava no meu quarto quando alguém me xingava. Com o tempo as pessoas só cochichavam, não gritavam mais no corredor. Eu cheguei ao segundo ano bem firme e com o objetivo do senso de justiça.

Me lembro que ainda tinham três garotos que tiravam sarro de mim, do meu amigo calado da quinta série e de mais um menino. Uma certa vez na quadro, durante um jogo de queimada (era a única coisa que eu jogava em quadra com a turma toda), um menino fez uma expressão vocal quando eu peguei a bola de queimar. Eu esperei o jogo acabar, eu fui pra cima dele. O azar do garoto era que nós morávamos na mesma rua, ele já tinha trabalhado junto a mim e dependido de algo, eu conhecia a mãe dele. Eu briguei feio com ele, disse que sabia onde ele morava (acredite, aquele garoto tinha muito medo da mãe dele. Ela batia nele algumas vezes, pois ele era um péssimo aluno). A professora de educação física apaziguou a briga e assinou uma ata, na qual eu citei o nome dos três garotos. No fim do ano, os três reprovaram e talvez eu tivesse culpa disso, ou somente eles mesmo tiveram culpa. Eu estava bem no segundo ano, mas não me sentia bem com aquela turma. Nosso grupo excluiu as outras pessoas, pois elas haviam nos excluído de tudo.

Ainda no segundo ano uma das patricinhas mais populares da escola teve sua foto intima espalhada na internet. Na verdade, aquilo nem era uma foto intima, era uma foto sensual. Ela e uma amiga estavam juntas e escondiam os seios com os braços. Pra mim nada demais, mas para o povinho do colégio, sim, nossa, era um absurdo, coisa de menina da vida, irregularidade, imoral, mas a real era hipocrisia da parte de quem julgava. Eu e minha amiga briguenta fizemos algo que poucos fizeram e não querendo algo em troca. Acolhemos a patricinha que só conversa com a gente quando queria cola. Ela ficou umas três semana sem ir pra aula, com medo. Eu e minha amiga fomos até a casa dela e convencemos ela a retornar a fazer suas atividades, ela não queria nem mais modelar. Não me importava se as pessoas iriam nos criticar, de alguma forma nos já éramos ridicularizados por alguns. O segundo ano acabou, eu agora iria para o ultimo no colegial, mas no turno da noite e não mais da manhã. Fui achando que seria a mesma coisa da manhã. As pessoas duvidando da minha sexualidade, eu sendo excluído dos grupos e eu chorando no meu quarto ao fim de tudo isso. Mas as surpresas que nos aguardam e são boas, vem, nos abraçam e nos fazem querer dar uma chance ao mundo...

No próximo post eu gosto a vocês como foi o terceiro e ultimo ano no colegial.

***
Não é um corpo bonito que ira te mudar por dentro e nem ira fechar as cicatrizes. Não é abaixando a cabeça que você terá respeito, mas não é com o nariz em pé e com arrogância que você conseguira conquistas amigos que lhe aceitaram pelo seu caráter. Ajudar ao próximo é ajudar a si mesmo, estender a mão para quem é, foi ou esta sendo rejeitado é uma das formas mais belas de mostrar o que você queria ter mas não teve. Mas não espere algo em troca, não é o mundo que te deve as coisas, e sim nós devemos mostrar o que aprendemos com as experiências da vida.

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